Que estouro!
Numa dada festa, a malta vai a desfilar pela rua a fora, tocando uma marcheca qualquer. Era naquele tempo que ainda vinham cachopos e graúdos atrás da banda, as velhotas desdentadas e as garotas balofas de Cerelác e muita sopa de grão vinham à janela ou à soleira da porta apreciar a passagem da “mújica”, as boazonas ainda estavam deitadas pois tinham-se embebedado no baile da noite anterior, os velhos a cheirar a mijo ofereciam um copito da adega aos músicos (“taditos, fartam-se de suar e nem um copo de água, cheio de vinho, lhes dão”) e os fogueteiros lançavam os caniçais com bombaças mesmo à frente da banda, e ninguém se insurgia contra a fumaça que entretanto se enfiava rapidamente pelas narinas a dentro. Eram tempos saudáveis!
Pois um desses fogueteiros (Jurema!! Aqui tá tudo muito bom! Viv’ó casamento do nosso Tóino! Vô cumprar um foguete de mil vonvas! Pum pó ar!) com a mania que sabia lançar foguetório, pôs-se para lá a inventar até que conseguiu, sem querer, incendiar uns 7 ou 8 foguetes ao mesmo tempo! Isso é que foi tudo a correr, a bater com os calcanhares no pescoço, banda, putos, velhas, tudo um para cada lado! Os foguetes, esses, foram-se enfiar quase todos debaixo do carro do Leston do barítono, um carro verde que ele tinha que era do pai. Rebentou-lhe com a pintura toda que teve de ser todo repintado. Penso que foi o fogueteiro ou a comissão de festas que pagou o prejuízo. Que estouro!